segunda-feira, agosto 27, 2007

Zip tie - o melhor amigo do ciclista

23 de Agosto
 
Cucu!!
 
Nao sei bem a quantas ando na actualizaçao da informacao mas parece-me que "fiquei" em San Jose a caminho dos rodados da minha borrega.
 
De facto, depois de passar umas férias no aeroporto de Lisboa a borrega seguiu viagem para San Jose no dia 10 e chegou a 12 a Costa Rica. Muito bem! Vivam os funcionários do aeroporto de Lisboa que após 10 dias de eu ter viajado se resolveram a "manda-la" para o passeio. Thank you!!!
 
Á excepcao do suporte traseiro (que vinha todo empanado) a ginga estava impecável. O Pedro chegou tambem (tambem um pouco empenado da viagem e de um joelho) mas inteiro e fresco como as alfaces. Tratamos de o empenar no dia seguinte quando depois de uma noite curta e mal dormida a conta do "jet lag", o atiramos para um dia de cicloturismo com cerca de 62 kilómetros e um desnível acumulado de 1865, com rampas de 18% de inclinacao.
 
Resolvemos abandonar San Jose pela via mais dificil, passando o Cierro de La Muerte (um dos pontos mais altos da Costa Rica - 3494 metros de altitude). 
Á volta de San Jose a paisagem tem pouco para contar. Aliás.... poderá de certa forma parecer das descricoes que faço da Costa Rica que é um país desinteressante....
 
Mas claro que nao é. Costa Rica é um país belo por natureza. Sem grande esforco o verde abunda por toda a parte, apresentando-se quase sempre como se todos os dias requeresse cuidados extremosos e profissionais. Em catadupa somos assaltados pelo verde e pela paisagem naturalmente organizada ao longo dos percursos que temos feito. De facto muito bonito.
 
A questao é que para quem saiu da Nicarágua, que nao se explica bem, mas que nos marca muito, a Costa Rica parece assombrosamente civilizado, quase que "injustamente" bonito pela facilidade com que a natureza brinda o solos. Por outro lado, o quente que se sente nas pessoas na Nicarágua passa a um morno Costaricense. Nem melhor, nem pior. Mas diferente. Continuo a achar que tenho de voltar a sentir a Nicarágua.
 
Saindo do "raio" de acçao da capital, que apesar de tudo se encontra num enquadramento lindìssimo, rodeado de montanhas (as montanhas da Xìnia, que gosta de as palmear), e fugindo aos circuitos mais turísticos, a Costa Rica tem-se revelado. Finalmente. Finalmente circulamos nos caminhos mais verdadeiros e menos "artificialmente cuidados" para turista ver. A verdade mais nua e um pouco mais crua. A que a mim me agrada mais.
 
Em dois dias brindamos, como dizia, o Cierro de La Muerte. A custo e na companhia de um Tico, o Henry, amante do ciclismo e (imagine-se) irmao de uma namorada de um portugues!! (ele ha coincidencias) alcançamos no segundo dia, o passe mais alto da estrada Pan Americana do hemisfério Norte. 
 
Tivemos azar que depois de alcançado o Cierro, apos uns 50 kilómetros de subida, nao pudemos disfrutar da paisagem. E que estamos na epoca das chuvas e abateu-se uma chuva e um frio na descida que nos enregelou ate aos ossos. De facto fomos brindados com maior das chuvadas da viagem. Chegamos a San Isidro del General como pintos.
 
O dia seguinte foi de "pura bajada" como se diz por aqui. Ate a praia de Dominical. Seguiu-se um passeio a beira mar ate Punta Uvita, onde nos cruzamos com um casal de espanhois que esta nos pedais ha 7 meses e que vem desde a Argentina.
 
Depois de atravessarmos uma plantacao gigante de Palma Aceiteira (palmeira a partir da qual se faz óleo e outros produtos utilizados em cosmètica) chegamos a Sierpe. Dia muito flat. Flat, flat, flat. Tudo plano. Bom para o descanso. O destino tinha como objectivo apanhar um barco para a Bahia de Drake. A baia, situada na península de Osa, é considerada um dos locais mais preservados da Costa Rica. Que aconteceu no dia seguinte.
 
Tivemos um misto de "deja vue" na viagem e chegada a Drake. Um "medley" de filmes. Misto de filme "A tempestade": com o  capitan da embarcaçao a fazer uma pega de caras, uma pega de cernelha e ainda um sprint final (qual Fuga para a Vitória, com o Stallone) para conseguir passar a rebentaçao das ondas, na juncao das aguas do golfo e do mar. Depois, foi uma cena de um filme estilo desembarque na Normandia, connosco a ter de saltar do barco, mais as burras e os alforges com a àgua quase pela cintura. Mas correu bem.
 
E foi aí que tudo mudou. Mudou o cenário verde e fácil. Limpinho, higienizado, verdadeiro mas organizado, para a realidade da Costa Rica, antes da invasao consumista. Antes da artificializaçao das estruturas, redes viàrias e facilitaçao da vida, e conciliacao com o "gosto" e expectativa do turista. Ufa!
 
Apesar de termos"arrampanado" por uma estrada de pedra solta, onde tambem acabamos por acampar, finalmente respiramos de alívio! Fizemos ums das estradas mais bonitas da península de Osa e arrisco dizer do país. Nao sem que custasse um pouco. Passamos (no total) 5 rios - umas vezes tivemos de tirar toda a carga das bicicletas, outras molhamos so os pes e outras variacoes a guitarra - e paramos 5 vezes tambem para fazer remendos aos alforges que resolveram amotinar-se contra a trepidacao da estrada. 
 
O Pedro (que ficará na história, como o único ciclista que se lembraria de vir pedalar na Costa Rica numa bicicleta single speed) fez milagres (que estao devidamente documentados em fotos) para remendar os suportes do Nuno, e os meus, com bocados de corrente, Zip-ties (vulgo abraçadeiras plásticas que temos usado ao kilo para remendar tudo e mais alguma coisa), "tape" e espias de tenda. Merece um prémio! Esta tudo a funcionar (como dizem os meus alunos) DE ORIGEM.
 
Um serao em Porto Jimenez na companhia de um americano, aguardente de Caña e umas cubas livres, deram o mote para a alvorada de hoje às 5 da manha para apanhar o barco para Golfito e regressar a terra firme. Em mais uma fuga da Pan-American Highway seguimos até à fronteira do Panamá. "Atrasamos" a jornada com uma sesta e uma trovoada. Tenho a dizer que nunca senti um raio tao perto....estava montada em cima da burra e acho que por segundos virei assim como que radiografia (ZZZZZZTTTTTT) tipo desenho animado. 
 
Amanha espera-nos um país novo. Aguardo com expectativa para saber o que nos reserva a difícil tarefa que temos de fugir dos circuitos comerciais em busca do contacto mais verdadeiro com o país, as sua gente e o seu dia-a-dia.
 
Se curiosidade matasse!
 
Teresa Bento
 
 
 
 
 
 
 
 
    
 
 
 
 
 

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