quinta-feira, agosto 16, 2007

Violently Happy

Hola!
No calor da America Central, os dias sao tudo menos monotonos. Depois da viagem de autocarro de San Jose para Granada na Nicaragua (onde se recomenda o servico da Tica Bus, apesar de ter viajado desde as 6 da manha numa autentica arca frigorifica), com direito a uma passagem muito civilizada pela fronteira, encontrei o Nuno na Hospedage na rua do comercio em Granada, a meio da tarde.
Demos um giro pela cidade e procuramos saber das possibilidades que tinha para comprar uma "maquina" para mim. As possibilidades que tina eram de entre as opcoes das marcas nacionais. Dificil a escolha entre as Raly USA, as Linx ou as Toby Trek. A qualidade pouco difere e os precos muito menos. Assim, investi 97 dolares na Tona (nao consigo encontrar o til...mas le-se Tonha).
A Tona basicamente e um jumento com alguma classe porque lhe trocamos a cassete e as mudancas para umas shimano, colocamos uma extensores de guiador e um suporte para os alforges . O rapaz da loja avisou que era melhor ter cuidado senao roubavam-na porque eram pecas muito caras....nos sabemos....e viriamos a saber melhor da qualidade mais tarde.
Apesar de ser nova a Tonha e um pouco obesa (pesa toneladas), tem um quadro 26 que nao sei converter em nada conhecido e de cor azul e cinza. De aspecto tenho a dizer que "brilha" mais do que a do Nuno. Uma bomba, portanto.
Granada e uma cidade onde (ate que enfim) senti o cheiro da gente, da terra e a agitacao do dia a dia. Uma bencao! Granada esta arranjadinha e organizada. Tem a praca central "a espanhola" e respira um ar de ordem e seguranca.
Depois da voltinha de experiencia e estreia da burra nova, planeamos o o dia seguinte (a luz das velas porque nao havia luz em Granada). Iamos seguir para Rivas e apanhar o barco para a Ilha de Ometepe, no Lago Nicaragua.
Assim foi: amanhecemos e seguimos pela carretera fora. Para fugir a confusao da estrada principal e resolvemos investir numa estrada de terra que seguia ao pe do Lago Nicaragua. O lago e o 10 maior lago de agua doce do mundo, e o unico onde existem tubaroes que vivem neste tipo de ambiente. Tomamos a melhor decisao do dia quando, depois de refrescarmo-nos com uma Coca Cola (sim, agua de lavar pes dos americanos), num alpendre a beira do lago, seguimos pela praia junto ao lago.
Delicioso viajar com o vento fresquinho vindo do lado da agua, na beira mar. Passamos lavadouros, carros de bois, criancos a brincar por ali. Inclusive passamos por uma familia em que sentado na beirinha da agua, o pai ostentava um crocodilo bebe nas maos. Afiancou-nos no meio de umas gargalhadas fortes que "crocodilo? Nao, e um lagarto".
A praia foi a nossa estrada ate a San Jorge, um pequeno porto, onde pontualmente entramos para o barco ja se fechavam os portoes de acesso. Matematico!
A viagem ate e ilha foi rapida e assentamos arraiais num sitiozinho na rua principal. Cama, casa de banho, e um alpendre onde deixamos as burras e fizemos o jantar. O serao foi partilhado com um italiano. O Nuno ainda fez pipocas e cafe! Prazeres simples que se multiplicam nestas alturas.
A Tona quando chegamos ainda teve de ir a oficina porque como sofre de uma amnesia estranha e esquece-se de mudar de mudanca quando eu lhe peco e terminei o dia so com uma mudanca atras. Para alem disso, tinha dado um queda (sozinha, deve ter sido uma fraqueza que lhe deu...) e partido um "corno". Ficou como nova e percebemos que os parafusos da Tona nao apertam os cabos. 97 dolares, esta explicado!
O dia seguinte seria para dar uma volta pela ilha e tentar apanhar o barco para terra no lado oeste do Lago, passando a sul do Vulcao Concepcion.
Demos um giro e ainda jiboiamos numas redes na praia de Santo Domingo, antes de seguir para a parte menos turistica, ate Balgue. No regresso pela praia (somos profissionais), tive um furo. Na altura da troca da camara de ar, comecou uma das chuvadas tipicas deste lado do globo. Correu bem porque apesar da chuva e de eu ter ficado sem travoes (a frente e atras) conseguimos apanhar o barco para Puerto Morrito.
Puerto Morrito e um povo pequenino mas a hora que chegamos, bastante animado: disconight! Ficamos num quartinho com vista para o lago. Na manha, a Toña foi assistida por um "profissional" porque nos com as nossas chaves nao conseguiamos apertar as porcas dos travoes. De origem!
As opinioes acerca da carretera para San Miguelito que queriamos fazer, divergiam entre os locais: "mala" ou "muy mala". Que a bicicleta por vezes nao passava. Achamos exagero, claro. Seguimos viagem.
A saida de Puerto Morrito correu bem. 3 valentes empenos que eu fiz a arrastar a burra a pe, numa sequencia de sobe e desce que se tornou aflitiva depois de eu perder os travoes mais uma vez. Os 2, claro. Comigo ou e, ou nao e. Nao sei como, deu-se um jeito. Continuamos. As tantas, numa paragem olhei para o travao de tras e achei que qualquer coisa nao batia bem... tinha perdido o calco. O Nuno (umas maos de fada) conseguiu arranjar milagrosamente o travao da frente e passei a travar atras com o braco do travao. Este, como e obvio, foi fabricado com a tecnologia inovadora que fervilha por este pais em termos de componentes para bicicleta, e e feito nem mais nem menos de plastico. Tem aguentado.
A estrada que entretanto se tornou mais plana, foi-se revelando: paisagem "grande" e verde, passando as fincas. As casas de madeira, os porcos como caes, por ali, animais domesticos, os homens a cavalo e as mulheres com a roupa, com os filhos. Uma pobreza grande como a paisagem. Sons dos passaros e o cheiro da vida no campo. Neste campo.
A estrada plana terminou numa paragem a sombra, numas dentadas numa melancia fresca e uma cola Nica "Cola Shaver". Esta cola tem algo de medicinal. No sabor pelo menos tem...
Fizemo-nos a estrada mais uma vez e percebemos que afinal a estrada "mala" e "muy mala" realmente existia. Fizemos quilometros e quilometros debaixo de um sol abrasador que fintamos alternadamente com os buracos da estrada. Paramos para reparar o suporte do Nuno que cedeu e para retemperar forcas com uma "bucha" ou com um sumo (ja sou fa do Jumex de maca). Demoramos bastante tempo para fazer algums quilometros mas o estado da estrada era mesmo mau. Cruzamos enumeras vezes com os School Bus americanos que existem aos milhares pelo pais a fora para fazer os mais variados trajectos.
Todos amassados pela tremideira da estrada chegamos ate El Tule. Dormimos numa hospedaje no centro (centro e como em Vendas Novas, sendo que a localidade e se desenvolve ao lado da estrada). Muito peculiar. Sim, acho que peculiar e um bom adjectivo.
Na parte de tras da casa, foram construidas as habitaciones. No quintal. Um luxo. Uma cama com rede mosquiteira, espaco para a burra, papagaio, 2 piriquitos, 2 galinhas (que foram hoje para a panela, pela manha) e um desgracado de um cao (como sao todos os caes neste pais de fome) escanzelado ate a quinta costela.
A casa de banho do mais luxuoso que ja encontrei: como se fosse um banco de madeira corrido com 2 buracos. O ambientador e que devia estar estragado.....
Todos os nossos movimentos foram analisados ao milimetro pela familia, na furia contida da curiosidade quiseram saber de tudo da bicicletas, do fogao ...Eu "atirei-me" para o spa. Umas madeiras que escondiam um bidon grande com agua. Momento zen do dia. Soube-me pela vida!
Jantamos e mais uma vez o desembaraco do Nuno ao fim dos seus 20 000 quilometros de viagem com o fogao e tudo mais , deixou-me espaco para suspirar de felicidade. Pelos dias, pela viagem.
A noite passou tranquila ate de madrugada, mesmo depois da cacada nocturna que se teve de fazer ao trio de baratas tamanho M que se passeava pela minha cama, e amanheceu tranquila tambem quando a turma da vovo Donalda acordou a ladrar, a palrar, a chilrear e a rezar o terco na radio, no quintal.
A caminho ainda paramos num comedor para o pequeno almoco (fraquinho: frango frito com arroz e feijao). Numa pressa chegamos depois de mais 35 quilometros de solavancos a San Carlos onde vamos panhar o barco para Los CHiles e entrar na Costa Rica.
Pelo caminho momentos kodak que mesmo em fotos nao vao ficar registados. Como se fossem postais ilustrados mas com som. No meio da pobreza extrema em que se vive. Em casas escuras, onde se descortinam as hamacas penduradas, de onde espreitam as mulheres e as criancas, soltam-se musicas das radios, canticos...
Os nosso "Holas" com que que lhes brindamos por vezes sao respondidos e por outras nao. Sera da curiosidade, ou sera da incredulidade, de verem passar 2 ciclistas por este roteiro completamente fora de todos os guias, como disse a senhora na hospedage, nao se veem turistas internacionais por aqui. Mas o povo e muito afavel e contrariamente ao que em todo o lado se diz da falta de seguranca, o facto e que nao se passa nada por aqui.
Tenho tentado arranjar uma frase, ou um adjectivo que para conseguir transmitir o que sinto nas pedaladas destes dias e so me ocorre um refrao de uma musica da Bjork: "Violently happy" .
Teresa

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