segunda-feira, agosto 06, 2007

Dias na América Latina - San José, CR

(da Teresa Bento)
Hola!!

Cá estou eu a transmitir desde o Continente Americano!!

Cheguei no dia 3 de Agosto a San José, a capital de Costa Rica, como previsto, pelas 20h30. Eu sim, a minha burra, não.
Depois de tantas horas de viagem, comidas de avião e um transbordo em Newark, capital emigrante portuguesa, acabei o dia sozinha. A minha bicicleta tinha ficado em parte incerta. E assim continua.

Para os menos informados, a ideia era voar até Costa Rica (destino mais turístico que permitiu bilhetes mais em conta, apesar de tudo), seguir para a Nicarágua de bus para ir ter com o Nuno Pedrosa (que está nos pedais há já 1 ano www.ontheroad.eu.com) e que está a fazer a estrada Pan-Americana, desde o Alasca. Depois virmos "por aí a baixo", entramos na Costa Rica e encontrarmo-nos com o Pedro Pedrosa (primo do Nuno) que chegará a São José por volta do dia 17. A ideia depois seria virmos os 3 por aí abaixo, entrar no Panamá, de onde o Nuno seguirá para sul na sua viagem e eu e o Pedro, "back to reality".

Eu e os "Pedrosas on Wheels", portanto. Este era o plano.

Depois dos preparativos do costume nestas viagens: compra dos bilhetes, substituição de peças da burra, visitas ao médico para as vacinas e profilaxia da malária (as vacinas - febre amarela e febre tifóide - não são obrigatórias mas são recomendáveis, principalmente se se prevê andar em zonas rurais), visitas ao dentista (não queremos ter uma dor de dentes por lá), pesagem dos alforges (novinhos em folha - uns Ortlieb!!!), escolha da roupa e do material a levar, entre outros, voei então para cá (Costa Rica).

Na chegada à Costa Rica tinha um português à minha espera: o Luis Salgueiro que é de Leiria e que contactou o Nuno através do website dele e que (ao que parece) têm amigos em comum. Foi giro. Eu no aeroporto à procura de alguém que desconhecia por completo e ele à procura de uma rapariga com uma bicicleta nas mãos. Ups!!

Depois de cerca de uma meia hora a tentar adivinhar quem seria o Luis, resolvi meter conversa com uma rapariga que esperava uns estrangeiros para levar para o seu "Hostal de Madeleine". Pensei, que se não encontrasse o Luis teria de arranjar um sítio para dormir.
Meti conversa e, às tantas, já lhe estava a pedir que me emprestasse uns cobres para poder telefonar. Lindo! Não tinha trocado dinheiro dentro do aeroporto porque esperava encontrar rapidamente o Luis. Pois... A rapariga foi muito simpatica e deu-me uma moeda. Tinha de a trocar para poder utilizar na cabine telefónica (tinha o número do telemóvel do Luis). Aproximei-me do balcão de um cafézito e, quando recebo os trocos de uma Tica enorme (Ticos são os Costa Ricenses, gordos são todos), surge-me o Luis que, com alguma convicção, me saudou com um "Teresa?". Retribuí um "Luís?" e cumprimentamo-nos. Devolvi os trocos à rapariga do Hostal de Madeleine e viemos embora.

Fomos jantar e depois, para casa do Luis, em San José. Viemos pela Estrada Pan-Americana. O trânsito é típico deste lado do globo. Completamente aleatório. Sinalização vertical cumpre-se só se nos apetecer. Na Pan-Americana estão pintados corações amarelos por cada pessoa que morre em consequência de um atropelamento ou acidente rodoviário. São muitos, garanto. As razões tenho-as percebido bem todos os dias que tenho saído de carro.

Habituei-me facilmente ao horário de cá. São menos 7 horas que aí e depois de uma directa arribei com a maior das facilidades depois de 6 horas de sono.

O dia seguinte foi dedicado a acompanhar (pelo telefone) o eventual trajecto que estaria a fazer a minha bicicleta pelo ciberespaço. Apesar de não constar em lado algum nos sistemas informáticos.
Como era fim-de-semana, fui apresentada ao pequeno-almoço típico de cá: Gallopinto. Muito leve. Arroz com feijão. Assim, às 7 da matina.

Depois demos umas voltas por aqui, o Luis apresentou-me a cidade de carro porque, é um facto, nada tem de interessante.
Muito latino, demonstrando fortes influências americanas, e pobre. As casas são baixas, pouco coloridas. Os alpendres são gradeados. Manchas cinzentas que se sucedem na estrada, e nas ruas. Há homens a dormir na rua, a dormir nas bermas da estrada. Embriagados, ou não. Semidespidos, por causa do calor. A dar cor, tudo o que são cadeias americanas: de comida, de roupa, de bancos, de stands, ....

A cidade de San Jose tem o centro urbano, altamente desaconselhavel, pela alta probabilidade de assaltos, e as zonas limítrofes, mais seguras. Aqui, onde se situa a casa do Luis, vive-se em condomínios. Com alto nível de segurança. Na verdade, de onde me tenho "mexido" é a parte mais europeia que se pode encontrar na capital. Onde vivem a maior parte dos estrangeiros que trabalham na Costa Rica. O Luis é um dos 3 portugueses que se encontra registado a trabalhar cá.

Quase todos os trabalhos relacionados com a manutenção dos jardins, das estradas, e de todas as infra-estruturas nos condomínios, as empregas das casas, e tudo o que seja trabalho considerado menor (apesar de duro), são os Nicaraguenses que os fazem (chamam-lhes Nicas). Na realidade dos 4 ou 5 milhões de habitantes da CR, 2 milhões são Nicas. A maior parte ilegais. Fogem do seu país, considerado o segundo mais pobre da América, depois do Haiti.

No sábado, da Continental (companhia aérea que me trouxe para cá) poucas ou nenhumas novidades houve da minha burra. Aconselharam a ir telefonando para saber se chegaria no voo do meio dia, depois no das 20h30 e assim, sucessivamente.

Entretanto, com o Luis e a Xinia (uma Tica, amiga do Luis), passeámos até Cartago e Orosí. Entrei na Costa Rica das fotografias e dos panfletos. Verde, muito verde, uma força húmida da natureza. Passámos e almoçamos num Cafetal (plantação de café). Aqui, não se passa fome. A terra dá. Por todo o lado. Jardins, quintais, ruas, estradas, por todo o lado há árvores de fruto. Fome não se passa.

Mas não se vive bem. Sufoca-se de humidade e um pouco de stress. Pelo trânsito, pelo medo dos assaltos. Aqui se se precisa de dinheiro, não se vai trabalhar. Rouba-se. Sem contemplações. Partem-se os vidros dos carros, agridem-se as pessoas, rapta-se e, se for preciso, mata-se. Sabia, porque tinha lido, que era assim. Achei que a mostra que tinha tido em Lima, no Peru, me tinha dado a certeza do que iria encontrar. De facto. A diferença é que não sabia que mesmo os Ticos, vivem assim. Em stress, com medo. Mas vivem. E adoram o seu país. de coração. Não querem sair daqui. Pelo clima e pela terra. Os que saem são os que conheceram já outras realidades. A europeia, alguns a americana. Aqui tudo funciona devagar. Se funciona. Não há culpas a imputar a pessoas. Só aos sistemas, às "coisas", e não se diz que não. Mas também não se faz. Mas são boa gente. É cultural.

Entretanto, Domingo foi para ir ao aeroporto e passar o dia a tentar arranjar maneira de saber da ginga e soluções para a situação. A minha irmã tratou das diligências em Lisboa e eu por cá. é uma tragicomédia: em Lisboa diziam à Xana que só eu pessoalmente poderia pedir para iniciar o processo de busca. Óptimo! Eu só estou do outro lado do planeta azul. É fácil.
Resultado: a burra desapareceu na estratosfera. Costa Rica diz que está em Lisboa. Lisboa diz que está nos USA. USA garante que não tem nada. E eu também, garanto que não a tenho.

No entanto, apesar das agruras e desagruras, da bicicleta, (que já imaginava que poderia vir a ter), tenho algo que não esperava. Tenho tido dias de luxo. Um luxo, sem dúvida!! Vim preparada para dormir no chão. Praticamente só tenho lycras para vestir. Trago amostras de shampoo, de cremes e o diabo a quatro, tudo muito portátil. Vinha preparada para me esfalfar para ter um acesso à internet. Para telefonar. Para me deslocar. Mas não... Tenho tido os meus próprios motoristas, cozinheiros, amas-secas incansáveis que me têm tratado nas palminhas. Presenteio-os com umas idas aos cafés, restaurantes, e a todo o lado, de sandálias, com meias por dentro, vestida de calças tailandesas e 1 (só tenho 1) t-shirt ou uma lycra das de pedalar, e uma "mala" a tiracolo (à qual tirei a buzina, para ser mais discreta).

Hoje, com as ameaças de morte que a Xana teve de fazer no aeroporto, em Portugal, mais a simpatia da Xínia, na Costa Rica, consegui tomar uma decisão. Vou partir amanhã para Nicarágua, para junto do Nuno, sem a ginga. Está aberto o processo (ou pseudo-processo) em Lisboa, aqui também, e em vez de esperar em São José para poder fazer a reclamação da perda (ou o que for) da burra, vou seguir viagem. Vou deixar preenchido o formulário de reclamação e se ela não aparecer até 6ª feira, a Xínia entrega por mim. Se aparecer, entregam em casa do Luis ou da Xínia.

Está feito. Já tenho o bilhete para Granada na Nicarágua (às 6 da manhã de cá). E lá vou tentar comprar um chaço qualquer para poder seguir viagem nos pedais. Senão é a pé. De trotinete, de patins ou de barco a remos. Mas é.

E pronto, fim de transmissão desde a Costa Rica. Penso que a próxima será de Nicarágua.

1 Comments:

  • Irra, mi�da, parecia um �dej�-vu�!!! �T� visto que �s tu quem engui�a as gingas... todo este relato lembrou-me a volta pelo sul de Fran�a (no ano de 1995, creio...?)e o regresso sem gingas nem �el contado� para servir de consolo... Belo come�o, sim Sra.! A tua dessa altura era uma Cheker Pig, correcto? Azul, n�o era? Beijo grande.
    Jonas

    By Blogger Tidjon, at 10:55 da tarde  

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