segunda-feira, agosto 27, 2007

Zip tie - o melhor amigo do ciclista

23 de Agosto
 
Cucu!!
 
Nao sei bem a quantas ando na actualizaçao da informacao mas parece-me que "fiquei" em San Jose a caminho dos rodados da minha borrega.
 
De facto, depois de passar umas férias no aeroporto de Lisboa a borrega seguiu viagem para San Jose no dia 10 e chegou a 12 a Costa Rica. Muito bem! Vivam os funcionários do aeroporto de Lisboa que após 10 dias de eu ter viajado se resolveram a "manda-la" para o passeio. Thank you!!!
 
Á excepcao do suporte traseiro (que vinha todo empanado) a ginga estava impecável. O Pedro chegou tambem (tambem um pouco empenado da viagem e de um joelho) mas inteiro e fresco como as alfaces. Tratamos de o empenar no dia seguinte quando depois de uma noite curta e mal dormida a conta do "jet lag", o atiramos para um dia de cicloturismo com cerca de 62 kilómetros e um desnível acumulado de 1865, com rampas de 18% de inclinacao.
 
Resolvemos abandonar San Jose pela via mais dificil, passando o Cierro de La Muerte (um dos pontos mais altos da Costa Rica - 3494 metros de altitude). 
Á volta de San Jose a paisagem tem pouco para contar. Aliás.... poderá de certa forma parecer das descricoes que faço da Costa Rica que é um país desinteressante....
 
Mas claro que nao é. Costa Rica é um país belo por natureza. Sem grande esforco o verde abunda por toda a parte, apresentando-se quase sempre como se todos os dias requeresse cuidados extremosos e profissionais. Em catadupa somos assaltados pelo verde e pela paisagem naturalmente organizada ao longo dos percursos que temos feito. De facto muito bonito.
 
A questao é que para quem saiu da Nicarágua, que nao se explica bem, mas que nos marca muito, a Costa Rica parece assombrosamente civilizado, quase que "injustamente" bonito pela facilidade com que a natureza brinda o solos. Por outro lado, o quente que se sente nas pessoas na Nicarágua passa a um morno Costaricense. Nem melhor, nem pior. Mas diferente. Continuo a achar que tenho de voltar a sentir a Nicarágua.
 
Saindo do "raio" de acçao da capital, que apesar de tudo se encontra num enquadramento lindìssimo, rodeado de montanhas (as montanhas da Xìnia, que gosta de as palmear), e fugindo aos circuitos mais turísticos, a Costa Rica tem-se revelado. Finalmente. Finalmente circulamos nos caminhos mais verdadeiros e menos "artificialmente cuidados" para turista ver. A verdade mais nua e um pouco mais crua. A que a mim me agrada mais.
 
Em dois dias brindamos, como dizia, o Cierro de La Muerte. A custo e na companhia de um Tico, o Henry, amante do ciclismo e (imagine-se) irmao de uma namorada de um portugues!! (ele ha coincidencias) alcançamos no segundo dia, o passe mais alto da estrada Pan Americana do hemisfério Norte. 
 
Tivemos azar que depois de alcançado o Cierro, apos uns 50 kilómetros de subida, nao pudemos disfrutar da paisagem. E que estamos na epoca das chuvas e abateu-se uma chuva e um frio na descida que nos enregelou ate aos ossos. De facto fomos brindados com maior das chuvadas da viagem. Chegamos a San Isidro del General como pintos.
 
O dia seguinte foi de "pura bajada" como se diz por aqui. Ate a praia de Dominical. Seguiu-se um passeio a beira mar ate Punta Uvita, onde nos cruzamos com um casal de espanhois que esta nos pedais ha 7 meses e que vem desde a Argentina.
 
Depois de atravessarmos uma plantacao gigante de Palma Aceiteira (palmeira a partir da qual se faz óleo e outros produtos utilizados em cosmètica) chegamos a Sierpe. Dia muito flat. Flat, flat, flat. Tudo plano. Bom para o descanso. O destino tinha como objectivo apanhar um barco para a Bahia de Drake. A baia, situada na península de Osa, é considerada um dos locais mais preservados da Costa Rica. Que aconteceu no dia seguinte.
 
Tivemos um misto de "deja vue" na viagem e chegada a Drake. Um "medley" de filmes. Misto de filme "A tempestade": com o  capitan da embarcaçao a fazer uma pega de caras, uma pega de cernelha e ainda um sprint final (qual Fuga para a Vitória, com o Stallone) para conseguir passar a rebentaçao das ondas, na juncao das aguas do golfo e do mar. Depois, foi uma cena de um filme estilo desembarque na Normandia, connosco a ter de saltar do barco, mais as burras e os alforges com a àgua quase pela cintura. Mas correu bem.
 
E foi aí que tudo mudou. Mudou o cenário verde e fácil. Limpinho, higienizado, verdadeiro mas organizado, para a realidade da Costa Rica, antes da invasao consumista. Antes da artificializaçao das estruturas, redes viàrias e facilitaçao da vida, e conciliacao com o "gosto" e expectativa do turista. Ufa!
 
Apesar de termos"arrampanado" por uma estrada de pedra solta, onde tambem acabamos por acampar, finalmente respiramos de alívio! Fizemos ums das estradas mais bonitas da península de Osa e arrisco dizer do país. Nao sem que custasse um pouco. Passamos (no total) 5 rios - umas vezes tivemos de tirar toda a carga das bicicletas, outras molhamos so os pes e outras variacoes a guitarra - e paramos 5 vezes tambem para fazer remendos aos alforges que resolveram amotinar-se contra a trepidacao da estrada. 
 
O Pedro (que ficará na história, como o único ciclista que se lembraria de vir pedalar na Costa Rica numa bicicleta single speed) fez milagres (que estao devidamente documentados em fotos) para remendar os suportes do Nuno, e os meus, com bocados de corrente, Zip-ties (vulgo abraçadeiras plásticas que temos usado ao kilo para remendar tudo e mais alguma coisa), "tape" e espias de tenda. Merece um prémio! Esta tudo a funcionar (como dizem os meus alunos) DE ORIGEM.
 
Um serao em Porto Jimenez na companhia de um americano, aguardente de Caña e umas cubas livres, deram o mote para a alvorada de hoje às 5 da manha para apanhar o barco para Golfito e regressar a terra firme. Em mais uma fuga da Pan-American Highway seguimos até à fronteira do Panamá. "Atrasamos" a jornada com uma sesta e uma trovoada. Tenho a dizer que nunca senti um raio tao perto....estava montada em cima da burra e acho que por segundos virei assim como que radiografia (ZZZZZZTTTTTT) tipo desenho animado. 
 
Amanha espera-nos um país novo. Aguardo com expectativa para saber o que nos reserva a difícil tarefa que temos de fugir dos circuitos comerciais em busca do contacto mais verdadeiro com o país, as sua gente e o seu dia-a-dia.
 
Se curiosidade matasse!
 
Teresa Bento
 
 
 
 
 
 
 
 
    
 
 
 
 
 

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quinta-feira, agosto 16, 2007

Dias felizes no pais da luxuria verde

Hola! De volta ä Costa Rica. Desta vez a a cavalo da Toña. Saimos no dia 11 de Agosto (se as contas nao falham) da Nicaragua, por San Carlos, e entramos na Costa Rica , em Los Chiles. As diferencas sao nos "pormenores essenciais", e sao abissais. Nao falta a luz. Nao falta a agua. As casas estao arranjadas e de construcao robusta (comparativamente a madeira e outros materiais que vimos na Nicaragua). Outra realidade. Outro quotidiano. Menos simples, mas mais "leve". O sitio onde dormimos ate tinha luzes de emergencia quando falta a luz (imagine-se!!!). A saida de Los Chiles na manha seguinte foi feita por uma estrada asfaltada. Optimo piso tendo em comparacao a estrada desde El Tule para San Carlos, na Nicaragua. A Toña (manhosa), nao dispensa os cuidados diarios do Nuno. Tem de ter (pelo menos) uma meia hora de mimos para depois seguir viagem. Ou sao os calcos, ou e a roda que desvia e toca no quadro, ou os alforges ou outra coisa qualquer. Mas e certinho. Comecamos a pedalar e tunga! Va de fita. O Nuno dedica-se a ela e passa-lhe. A estrada para Muelle de San Carlos, apesar do piso ser bom, seguiu sempre estilo montanha russa (nao mata mas moi). Fomos surpreendidos por uma chuvada e aproveitamos para fazer um pic-nic no telheiro de uma oficina. Teve direito a sumo de lima e cafe no final - sempre a viajar em alto estilo. O estilo ainda se tornou mais refinado quando terminamos o dia num "resort" de cabinas perdido na terrinha com direito a tv no quarto e jardinzinho a maneira. Nao sei de onde saiu isto.....ate azulejos versao minimal preto tinha na casa de banho! Planeamos um dia seguinte muito curto: ai uns 30 kms. Temos feito 70 e tais, 60 e tais. E foi (ate ver). Saimos de Muelle de San Carlos e na paz seguimos estrada fora. Paisagem "verde luxuria". Paramos para tomar banho num rio e montamos o estandarte todo para almocar. Durmimos a sesta (afinal o dia era curto....). Arrancamos e quando chegamos perto do nosso destino refizemos os calculos. Em vez de descer para no dia seguinte ter de vencer todo esse desnivel, resolvemos avancar um bocadinho. "Um bocadinho". O bocadinho valeu-nos um empeno valente no alcatrao. Rematado por um empeno DESCOMUNAL numa estrada de terra cheia de calhau solto. A Toña e eu desmontamos uma ou outra vez. O Nuno nao. Atirou-se aos empenos com ligeireza. Mas valeu!Terminamos o dia na Laguna Hule. Sitio idilico. Regateamos o preco de uma cabaninha e durmimos enxutos (chovia que tolhia la fora) depois de vencer 1429 de desnivel acumulado ao longo de 63 kms. Merecemos o descanso e a moinice do dia seguinte. Apesar da pandilha de galinaceos da zona insistirem para nos levantarmos, o que fizemos foi arrastarnos ate a janela, arrastar de novo para a cama, para ver o tempo, para tomar o primeiro pequeno almoco, para arrumar os alforges, para o segundo pequeno almoco e finalmente bater umas chapas da zona da lagoa, que e verdadeiramente FAN-TAS-TI-CA. Previa-se outro dia curto: ai uns 30 kms. E foi. Mas doeu um bocadinho. So fizemos 28,5 kms mas vencemos 1383 de desnivel! Pouca coisa, afinal de contas....Dormimos num duplex com vista para a vacaria e galineiros apensos e quase tivemos direito a uma electrocucao gratis no chuveiro. Correu bem. Dedicamos o dia seguinte a uma maravilha da Costa Rica - o vulcao Poas. Fomos a boleia ate la cima para compensar o empeno do dia anterior. A maravilha a bem dizer pouco tem de maravilhoso, mas pronto....fomos picar o ponto. Ja esta. Passa a outro e nao ao mesmo.
Seguimos depois ate aqui (a Heredia) numa descida "violenta" de 20 e tal kms (muito duro, e certo....)....Hoje andamos numa de turista "acidental" mas nao conseguimos nem por mais uma tirar fotos. Estamos a fazer dar umas voltinhas e a tomar coragem para nos atirarmos de cabeca para o terror do transito ate San Jose.
Em San Jose esperam-nos o Luis, o Pedro que chega de noite e ainda..................................................a MINHA BURRA!!!!!!!!!!Nao se sabe bem como, mas parece que de se volatilizar, voltou ao estado liquido, caiu da estratosfera e enrigeceu, ganhando consistencia e retomando a forma (espero que o mais proximo do original possivel, vamos ver).
A Toña, apesar de eu ja ter arranjado um comprador, tera (eventualmente) um fim mais nobre, vamos ver...
Por agora, desde a Costa Rica, e ate ao proximo contacto via megafone da aldeia global, e tudo. Dias felizes no pais da luxuria verde
"Roger and out"
Teresa
PS -Parabens ao Andre Loureiro (afilhadinho da madrinha desnaturada) que faz hoje anos!!!!

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Violently Happy

Hola!
No calor da America Central, os dias sao tudo menos monotonos. Depois da viagem de autocarro de San Jose para Granada na Nicaragua (onde se recomenda o servico da Tica Bus, apesar de ter viajado desde as 6 da manha numa autentica arca frigorifica), com direito a uma passagem muito civilizada pela fronteira, encontrei o Nuno na Hospedage na rua do comercio em Granada, a meio da tarde.
Demos um giro pela cidade e procuramos saber das possibilidades que tinha para comprar uma "maquina" para mim. As possibilidades que tina eram de entre as opcoes das marcas nacionais. Dificil a escolha entre as Raly USA, as Linx ou as Toby Trek. A qualidade pouco difere e os precos muito menos. Assim, investi 97 dolares na Tona (nao consigo encontrar o til...mas le-se Tonha).
A Tona basicamente e um jumento com alguma classe porque lhe trocamos a cassete e as mudancas para umas shimano, colocamos uma extensores de guiador e um suporte para os alforges . O rapaz da loja avisou que era melhor ter cuidado senao roubavam-na porque eram pecas muito caras....nos sabemos....e viriamos a saber melhor da qualidade mais tarde.
Apesar de ser nova a Tonha e um pouco obesa (pesa toneladas), tem um quadro 26 que nao sei converter em nada conhecido e de cor azul e cinza. De aspecto tenho a dizer que "brilha" mais do que a do Nuno. Uma bomba, portanto.
Granada e uma cidade onde (ate que enfim) senti o cheiro da gente, da terra e a agitacao do dia a dia. Uma bencao! Granada esta arranjadinha e organizada. Tem a praca central "a espanhola" e respira um ar de ordem e seguranca.
Depois da voltinha de experiencia e estreia da burra nova, planeamos o o dia seguinte (a luz das velas porque nao havia luz em Granada). Iamos seguir para Rivas e apanhar o barco para a Ilha de Ometepe, no Lago Nicaragua.
Assim foi: amanhecemos e seguimos pela carretera fora. Para fugir a confusao da estrada principal e resolvemos investir numa estrada de terra que seguia ao pe do Lago Nicaragua. O lago e o 10 maior lago de agua doce do mundo, e o unico onde existem tubaroes que vivem neste tipo de ambiente. Tomamos a melhor decisao do dia quando, depois de refrescarmo-nos com uma Coca Cola (sim, agua de lavar pes dos americanos), num alpendre a beira do lago, seguimos pela praia junto ao lago.
Delicioso viajar com o vento fresquinho vindo do lado da agua, na beira mar. Passamos lavadouros, carros de bois, criancos a brincar por ali. Inclusive passamos por uma familia em que sentado na beirinha da agua, o pai ostentava um crocodilo bebe nas maos. Afiancou-nos no meio de umas gargalhadas fortes que "crocodilo? Nao, e um lagarto".
A praia foi a nossa estrada ate a San Jorge, um pequeno porto, onde pontualmente entramos para o barco ja se fechavam os portoes de acesso. Matematico!
A viagem ate e ilha foi rapida e assentamos arraiais num sitiozinho na rua principal. Cama, casa de banho, e um alpendre onde deixamos as burras e fizemos o jantar. O serao foi partilhado com um italiano. O Nuno ainda fez pipocas e cafe! Prazeres simples que se multiplicam nestas alturas.
A Tona quando chegamos ainda teve de ir a oficina porque como sofre de uma amnesia estranha e esquece-se de mudar de mudanca quando eu lhe peco e terminei o dia so com uma mudanca atras. Para alem disso, tinha dado um queda (sozinha, deve ter sido uma fraqueza que lhe deu...) e partido um "corno". Ficou como nova e percebemos que os parafusos da Tona nao apertam os cabos. 97 dolares, esta explicado!
O dia seguinte seria para dar uma volta pela ilha e tentar apanhar o barco para terra no lado oeste do Lago, passando a sul do Vulcao Concepcion.
Demos um giro e ainda jiboiamos numas redes na praia de Santo Domingo, antes de seguir para a parte menos turistica, ate Balgue. No regresso pela praia (somos profissionais), tive um furo. Na altura da troca da camara de ar, comecou uma das chuvadas tipicas deste lado do globo. Correu bem porque apesar da chuva e de eu ter ficado sem travoes (a frente e atras) conseguimos apanhar o barco para Puerto Morrito.
Puerto Morrito e um povo pequenino mas a hora que chegamos, bastante animado: disconight! Ficamos num quartinho com vista para o lago. Na manha, a Toña foi assistida por um "profissional" porque nos com as nossas chaves nao conseguiamos apertar as porcas dos travoes. De origem!
As opinioes acerca da carretera para San Miguelito que queriamos fazer, divergiam entre os locais: "mala" ou "muy mala". Que a bicicleta por vezes nao passava. Achamos exagero, claro. Seguimos viagem.
A saida de Puerto Morrito correu bem. 3 valentes empenos que eu fiz a arrastar a burra a pe, numa sequencia de sobe e desce que se tornou aflitiva depois de eu perder os travoes mais uma vez. Os 2, claro. Comigo ou e, ou nao e. Nao sei como, deu-se um jeito. Continuamos. As tantas, numa paragem olhei para o travao de tras e achei que qualquer coisa nao batia bem... tinha perdido o calco. O Nuno (umas maos de fada) conseguiu arranjar milagrosamente o travao da frente e passei a travar atras com o braco do travao. Este, como e obvio, foi fabricado com a tecnologia inovadora que fervilha por este pais em termos de componentes para bicicleta, e e feito nem mais nem menos de plastico. Tem aguentado.
A estrada que entretanto se tornou mais plana, foi-se revelando: paisagem "grande" e verde, passando as fincas. As casas de madeira, os porcos como caes, por ali, animais domesticos, os homens a cavalo e as mulheres com a roupa, com os filhos. Uma pobreza grande como a paisagem. Sons dos passaros e o cheiro da vida no campo. Neste campo.
A estrada plana terminou numa paragem a sombra, numas dentadas numa melancia fresca e uma cola Nica "Cola Shaver". Esta cola tem algo de medicinal. No sabor pelo menos tem...
Fizemo-nos a estrada mais uma vez e percebemos que afinal a estrada "mala" e "muy mala" realmente existia. Fizemos quilometros e quilometros debaixo de um sol abrasador que fintamos alternadamente com os buracos da estrada. Paramos para reparar o suporte do Nuno que cedeu e para retemperar forcas com uma "bucha" ou com um sumo (ja sou fa do Jumex de maca). Demoramos bastante tempo para fazer algums quilometros mas o estado da estrada era mesmo mau. Cruzamos enumeras vezes com os School Bus americanos que existem aos milhares pelo pais a fora para fazer os mais variados trajectos.
Todos amassados pela tremideira da estrada chegamos ate El Tule. Dormimos numa hospedaje no centro (centro e como em Vendas Novas, sendo que a localidade e se desenvolve ao lado da estrada). Muito peculiar. Sim, acho que peculiar e um bom adjectivo.
Na parte de tras da casa, foram construidas as habitaciones. No quintal. Um luxo. Uma cama com rede mosquiteira, espaco para a burra, papagaio, 2 piriquitos, 2 galinhas (que foram hoje para a panela, pela manha) e um desgracado de um cao (como sao todos os caes neste pais de fome) escanzelado ate a quinta costela.
A casa de banho do mais luxuoso que ja encontrei: como se fosse um banco de madeira corrido com 2 buracos. O ambientador e que devia estar estragado.....
Todos os nossos movimentos foram analisados ao milimetro pela familia, na furia contida da curiosidade quiseram saber de tudo da bicicletas, do fogao ...Eu "atirei-me" para o spa. Umas madeiras que escondiam um bidon grande com agua. Momento zen do dia. Soube-me pela vida!
Jantamos e mais uma vez o desembaraco do Nuno ao fim dos seus 20 000 quilometros de viagem com o fogao e tudo mais , deixou-me espaco para suspirar de felicidade. Pelos dias, pela viagem.
A noite passou tranquila ate de madrugada, mesmo depois da cacada nocturna que se teve de fazer ao trio de baratas tamanho M que se passeava pela minha cama, e amanheceu tranquila tambem quando a turma da vovo Donalda acordou a ladrar, a palrar, a chilrear e a rezar o terco na radio, no quintal.
A caminho ainda paramos num comedor para o pequeno almoco (fraquinho: frango frito com arroz e feijao). Numa pressa chegamos depois de mais 35 quilometros de solavancos a San Carlos onde vamos panhar o barco para Los CHiles e entrar na Costa Rica.
Pelo caminho momentos kodak que mesmo em fotos nao vao ficar registados. Como se fossem postais ilustrados mas com som. No meio da pobreza extrema em que se vive. Em casas escuras, onde se descortinam as hamacas penduradas, de onde espreitam as mulheres e as criancas, soltam-se musicas das radios, canticos...
Os nosso "Holas" com que que lhes brindamos por vezes sao respondidos e por outras nao. Sera da curiosidade, ou sera da incredulidade, de verem passar 2 ciclistas por este roteiro completamente fora de todos os guias, como disse a senhora na hospedage, nao se veem turistas internacionais por aqui. Mas o povo e muito afavel e contrariamente ao que em todo o lado se diz da falta de seguranca, o facto e que nao se passa nada por aqui.
Tenho tentado arranjar uma frase, ou um adjectivo que para conseguir transmitir o que sinto nas pedaladas destes dias e so me ocorre um refrao de uma musica da Bjork: "Violently happy" .
Teresa

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segunda-feira, agosto 06, 2007

Dias na América Latina - San José, CR

(da Teresa Bento)
Hola!!

Cá estou eu a transmitir desde o Continente Americano!!

Cheguei no dia 3 de Agosto a San José, a capital de Costa Rica, como previsto, pelas 20h30. Eu sim, a minha burra, não.
Depois de tantas horas de viagem, comidas de avião e um transbordo em Newark, capital emigrante portuguesa, acabei o dia sozinha. A minha bicicleta tinha ficado em parte incerta. E assim continua.

Para os menos informados, a ideia era voar até Costa Rica (destino mais turístico que permitiu bilhetes mais em conta, apesar de tudo), seguir para a Nicarágua de bus para ir ter com o Nuno Pedrosa (que está nos pedais há já 1 ano www.ontheroad.eu.com) e que está a fazer a estrada Pan-Americana, desde o Alasca. Depois virmos "por aí a baixo", entramos na Costa Rica e encontrarmo-nos com o Pedro Pedrosa (primo do Nuno) que chegará a São José por volta do dia 17. A ideia depois seria virmos os 3 por aí abaixo, entrar no Panamá, de onde o Nuno seguirá para sul na sua viagem e eu e o Pedro, "back to reality".

Eu e os "Pedrosas on Wheels", portanto. Este era o plano.

Depois dos preparativos do costume nestas viagens: compra dos bilhetes, substituição de peças da burra, visitas ao médico para as vacinas e profilaxia da malária (as vacinas - febre amarela e febre tifóide - não são obrigatórias mas são recomendáveis, principalmente se se prevê andar em zonas rurais), visitas ao dentista (não queremos ter uma dor de dentes por lá), pesagem dos alforges (novinhos em folha - uns Ortlieb!!!), escolha da roupa e do material a levar, entre outros, voei então para cá (Costa Rica).

Na chegada à Costa Rica tinha um português à minha espera: o Luis Salgueiro que é de Leiria e que contactou o Nuno através do website dele e que (ao que parece) têm amigos em comum. Foi giro. Eu no aeroporto à procura de alguém que desconhecia por completo e ele à procura de uma rapariga com uma bicicleta nas mãos. Ups!!

Depois de cerca de uma meia hora a tentar adivinhar quem seria o Luis, resolvi meter conversa com uma rapariga que esperava uns estrangeiros para levar para o seu "Hostal de Madeleine". Pensei, que se não encontrasse o Luis teria de arranjar um sítio para dormir.
Meti conversa e, às tantas, já lhe estava a pedir que me emprestasse uns cobres para poder telefonar. Lindo! Não tinha trocado dinheiro dentro do aeroporto porque esperava encontrar rapidamente o Luis. Pois... A rapariga foi muito simpatica e deu-me uma moeda. Tinha de a trocar para poder utilizar na cabine telefónica (tinha o número do telemóvel do Luis). Aproximei-me do balcão de um cafézito e, quando recebo os trocos de uma Tica enorme (Ticos são os Costa Ricenses, gordos são todos), surge-me o Luis que, com alguma convicção, me saudou com um "Teresa?". Retribuí um "Luís?" e cumprimentamo-nos. Devolvi os trocos à rapariga do Hostal de Madeleine e viemos embora.

Fomos jantar e depois, para casa do Luis, em San José. Viemos pela Estrada Pan-Americana. O trânsito é típico deste lado do globo. Completamente aleatório. Sinalização vertical cumpre-se só se nos apetecer. Na Pan-Americana estão pintados corações amarelos por cada pessoa que morre em consequência de um atropelamento ou acidente rodoviário. São muitos, garanto. As razões tenho-as percebido bem todos os dias que tenho saído de carro.

Habituei-me facilmente ao horário de cá. São menos 7 horas que aí e depois de uma directa arribei com a maior das facilidades depois de 6 horas de sono.

O dia seguinte foi dedicado a acompanhar (pelo telefone) o eventual trajecto que estaria a fazer a minha bicicleta pelo ciberespaço. Apesar de não constar em lado algum nos sistemas informáticos.
Como era fim-de-semana, fui apresentada ao pequeno-almoço típico de cá: Gallopinto. Muito leve. Arroz com feijão. Assim, às 7 da matina.

Depois demos umas voltas por aqui, o Luis apresentou-me a cidade de carro porque, é um facto, nada tem de interessante.
Muito latino, demonstrando fortes influências americanas, e pobre. As casas são baixas, pouco coloridas. Os alpendres são gradeados. Manchas cinzentas que se sucedem na estrada, e nas ruas. Há homens a dormir na rua, a dormir nas bermas da estrada. Embriagados, ou não. Semidespidos, por causa do calor. A dar cor, tudo o que são cadeias americanas: de comida, de roupa, de bancos, de stands, ....

A cidade de San Jose tem o centro urbano, altamente desaconselhavel, pela alta probabilidade de assaltos, e as zonas limítrofes, mais seguras. Aqui, onde se situa a casa do Luis, vive-se em condomínios. Com alto nível de segurança. Na verdade, de onde me tenho "mexido" é a parte mais europeia que se pode encontrar na capital. Onde vivem a maior parte dos estrangeiros que trabalham na Costa Rica. O Luis é um dos 3 portugueses que se encontra registado a trabalhar cá.

Quase todos os trabalhos relacionados com a manutenção dos jardins, das estradas, e de todas as infra-estruturas nos condomínios, as empregas das casas, e tudo o que seja trabalho considerado menor (apesar de duro), são os Nicaraguenses que os fazem (chamam-lhes Nicas). Na realidade dos 4 ou 5 milhões de habitantes da CR, 2 milhões são Nicas. A maior parte ilegais. Fogem do seu país, considerado o segundo mais pobre da América, depois do Haiti.

No sábado, da Continental (companhia aérea que me trouxe para cá) poucas ou nenhumas novidades houve da minha burra. Aconselharam a ir telefonando para saber se chegaria no voo do meio dia, depois no das 20h30 e assim, sucessivamente.

Entretanto, com o Luis e a Xinia (uma Tica, amiga do Luis), passeámos até Cartago e Orosí. Entrei na Costa Rica das fotografias e dos panfletos. Verde, muito verde, uma força húmida da natureza. Passámos e almoçamos num Cafetal (plantação de café). Aqui, não se passa fome. A terra dá. Por todo o lado. Jardins, quintais, ruas, estradas, por todo o lado há árvores de fruto. Fome não se passa.

Mas não se vive bem. Sufoca-se de humidade e um pouco de stress. Pelo trânsito, pelo medo dos assaltos. Aqui se se precisa de dinheiro, não se vai trabalhar. Rouba-se. Sem contemplações. Partem-se os vidros dos carros, agridem-se as pessoas, rapta-se e, se for preciso, mata-se. Sabia, porque tinha lido, que era assim. Achei que a mostra que tinha tido em Lima, no Peru, me tinha dado a certeza do que iria encontrar. De facto. A diferença é que não sabia que mesmo os Ticos, vivem assim. Em stress, com medo. Mas vivem. E adoram o seu país. de coração. Não querem sair daqui. Pelo clima e pela terra. Os que saem são os que conheceram já outras realidades. A europeia, alguns a americana. Aqui tudo funciona devagar. Se funciona. Não há culpas a imputar a pessoas. Só aos sistemas, às "coisas", e não se diz que não. Mas também não se faz. Mas são boa gente. É cultural.

Entretanto, Domingo foi para ir ao aeroporto e passar o dia a tentar arranjar maneira de saber da ginga e soluções para a situação. A minha irmã tratou das diligências em Lisboa e eu por cá. é uma tragicomédia: em Lisboa diziam à Xana que só eu pessoalmente poderia pedir para iniciar o processo de busca. Óptimo! Eu só estou do outro lado do planeta azul. É fácil.
Resultado: a burra desapareceu na estratosfera. Costa Rica diz que está em Lisboa. Lisboa diz que está nos USA. USA garante que não tem nada. E eu também, garanto que não a tenho.

No entanto, apesar das agruras e desagruras, da bicicleta, (que já imaginava que poderia vir a ter), tenho algo que não esperava. Tenho tido dias de luxo. Um luxo, sem dúvida!! Vim preparada para dormir no chão. Praticamente só tenho lycras para vestir. Trago amostras de shampoo, de cremes e o diabo a quatro, tudo muito portátil. Vinha preparada para me esfalfar para ter um acesso à internet. Para telefonar. Para me deslocar. Mas não... Tenho tido os meus próprios motoristas, cozinheiros, amas-secas incansáveis que me têm tratado nas palminhas. Presenteio-os com umas idas aos cafés, restaurantes, e a todo o lado, de sandálias, com meias por dentro, vestida de calças tailandesas e 1 (só tenho 1) t-shirt ou uma lycra das de pedalar, e uma "mala" a tiracolo (à qual tirei a buzina, para ser mais discreta).

Hoje, com as ameaças de morte que a Xana teve de fazer no aeroporto, em Portugal, mais a simpatia da Xínia, na Costa Rica, consegui tomar uma decisão. Vou partir amanhã para Nicarágua, para junto do Nuno, sem a ginga. Está aberto o processo (ou pseudo-processo) em Lisboa, aqui também, e em vez de esperar em São José para poder fazer a reclamação da perda (ou o que for) da burra, vou seguir viagem. Vou deixar preenchido o formulário de reclamação e se ela não aparecer até 6ª feira, a Xínia entrega por mim. Se aparecer, entregam em casa do Luis ou da Xínia.

Está feito. Já tenho o bilhete para Granada na Nicarágua (às 6 da manhã de cá). E lá vou tentar comprar um chaço qualquer para poder seguir viagem nos pedais. Senão é a pé. De trotinete, de patins ou de barco a remos. Mas é.

E pronto, fim de transmissão desde a Costa Rica. Penso que a próxima será de Nicarágua.

1 Comments:

  • Irra, mi�da, parecia um �dej�-vu�!!! �T� visto que �s tu quem engui�a as gingas... todo este relato lembrou-me a volta pelo sul de Fran�a (no ano de 1995, creio...?)e o regresso sem gingas nem �el contado� para servir de consolo... Belo come�o, sim Sra.! A tua dessa altura era uma Cheker Pig, correcto? Azul, n�o era? Beijo grande.
    Jonas

    By Blogger Tidjon, at 10:55 da tarde  

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